13 de julho de 2009

Identificação com agressor garante controle eficaz

O artigo “O assessor de imprensa virou espião?”, de Rodrigo Capella, publicado no Observatório da Imprensa na semana que foi do dia 6/7 ao dia 12/7, dá conta de que cada vez mais se investe no “monitoramento de ambientes”. Trata-se de, em termos claros, um controle do que acontece em um determinado lugar, principalmente nas empresas. O objetivo é controlar o que acontece, o que se diz.

Para que haja esse controle, é preciso mais do que câmeras ou gravadores ocultos. É preciso que haja guardas circulando – não clara e objetivamente, não à vista, pois que se houver isso, ninguém vai falar nada fora das regras. É preciso que os guardas estejam interiorizados nas pessoas, que estas sejam os guardas. As câmeras ou gravadores são úteis para a vigilância, mas não são o que há de mais importante. Chamam demais a atenção e, por si sós, são mais preventivos do que estimuladores de efetivas transgressões. O que vale mesmo é que esses guardas estejam ocultos, multiplicando sua eficácia e eficiência.

O que ocorre é que há cada vez mais a incorporação da lógica do controle e da vigilância na sociedade ocidental contemporânea. Cada cidadão tem sentido que deve aceitar, até mesmo pedir, que haja essa vigilância e controle, pois do outro lado há o perigo constante. Sem vigilância, haverá riscos diversos, e mesmo o caos. Há nitidamente a fantasia de que enquanto se estiver vigiando, nada ocorrerá, ou, pelo menos, ocorrerá algo perigoso com menos frequência. Não se tem qualquer noção de que a própria vigilância permanente já é, em si, o grande perigo. Muito menos de que o que se pretende evitar com essa forma de proceder não são os riscos que a realidade apresenta, mas aquilo que um dia se idealizou como “liberdade” ou aquilo que alguns chamam de “singularidade”.

Em nome de uma suposta segurança, o que se está fazendo é tornando a realidade cada vez mais pobre e previsível. O que se pretende é constituir autômatos que se movem guiados pelo medo - o que leva à mentalidade obsessiva da vigilância perene. Anna Freud conceituou, um dia, a adoção de comportamentos semelhantes aos da autoridade como “identificação com o agressor”. Trata-se de um mecanismo de defesa do ego que pretende, magicamente, evitar dissabores de ataques simplesmente pela identificação com o autor desses ataques. Magicamente, porque não se consegue nada além de legitimar a autoridade de quem agride.

É desse modo, com base nessa identificação com o agressor, que a maior parte das pessoas tem vivido: martirizadas, passam a algozes rapidamente, com sadismo redobrado. Não apenas aceitam ser vigiadas, promovem e difundem a mentalidade da vigilância. Promovem, desse modo, a perenização do seu martírio.

Luiz Geremias
Imagem de http://www.banksy.co.uk/outdoors/images/landscapes/girl-tv.jpg

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