3 de agosto de 2009

Mais um diálogo midiático

Carlos Chagas entrevista o brigadeiro Sérgio Ferolla no Falando Francamente, transmitido pela Paraná Educativa na sexta-feira, 31 de julho.

Foto de Luiz Geremias

21 de julho de 2009

Aparição

Foto tirada durante a gravação do programa de entrevistas "Falando Francamente", gravado na Secretaria de Representação do Paraná em Brasília. Carlos Chagas (direita) entrevistou Fernnado Collor, que aparece no monitor. A foto é minha.

13 de julho de 2009

Identificação com agressor garante controle eficaz

O artigo “O assessor de imprensa virou espião?”, de Rodrigo Capella, publicado no Observatório da Imprensa na semana que foi do dia 6/7 ao dia 12/7, dá conta de que cada vez mais se investe no “monitoramento de ambientes”. Trata-se de, em termos claros, um controle do que acontece em um determinado lugar, principalmente nas empresas. O objetivo é controlar o que acontece, o que se diz.

Para que haja esse controle, é preciso mais do que câmeras ou gravadores ocultos. É preciso que haja guardas circulando – não clara e objetivamente, não à vista, pois que se houver isso, ninguém vai falar nada fora das regras. É preciso que os guardas estejam interiorizados nas pessoas, que estas sejam os guardas. As câmeras ou gravadores são úteis para a vigilância, mas não são o que há de mais importante. Chamam demais a atenção e, por si sós, são mais preventivos do que estimuladores de efetivas transgressões. O que vale mesmo é que esses guardas estejam ocultos, multiplicando sua eficácia e eficiência.

O que ocorre é que há cada vez mais a incorporação da lógica do controle e da vigilância na sociedade ocidental contemporânea. Cada cidadão tem sentido que deve aceitar, até mesmo pedir, que haja essa vigilância e controle, pois do outro lado há o perigo constante. Sem vigilância, haverá riscos diversos, e mesmo o caos. Há nitidamente a fantasia de que enquanto se estiver vigiando, nada ocorrerá, ou, pelo menos, ocorrerá algo perigoso com menos frequência. Não se tem qualquer noção de que a própria vigilância permanente já é, em si, o grande perigo. Muito menos de que o que se pretende evitar com essa forma de proceder não são os riscos que a realidade apresenta, mas aquilo que um dia se idealizou como “liberdade” ou aquilo que alguns chamam de “singularidade”.

Em nome de uma suposta segurança, o que se está fazendo é tornando a realidade cada vez mais pobre e previsível. O que se pretende é constituir autômatos que se movem guiados pelo medo - o que leva à mentalidade obsessiva da vigilância perene. Anna Freud conceituou, um dia, a adoção de comportamentos semelhantes aos da autoridade como “identificação com o agressor”. Trata-se de um mecanismo de defesa do ego que pretende, magicamente, evitar dissabores de ataques simplesmente pela identificação com o autor desses ataques. Magicamente, porque não se consegue nada além de legitimar a autoridade de quem agride.

É desse modo, com base nessa identificação com o agressor, que a maior parte das pessoas tem vivido: martirizadas, passam a algozes rapidamente, com sadismo redobrado. Não apenas aceitam ser vigiadas, promovem e difundem a mentalidade da vigilância. Promovem, desse modo, a perenização do seu martírio.

Luiz Geremias
Imagem de http://www.banksy.co.uk/outdoors/images/landscapes/girl-tv.jpg

1 de julho de 2009

Diálogo midiático

O jornalista Carlos Chagas conversa com Roberto Freire, presidente nacional do PPS, que aparece na tela do monitor, durante a gravação do programa "Falando Francamente", produzido pela Secretaria de Representação do Paraná em Brasília e veiculado pela Paraná Educativa.
Foto Luiz Geremias

18 de junho de 2009

Sobre pastores e jardineiros

M. André G. Haudricourt propôs uma noção interessante para entender a subjetividade de certos povos antigos. Ele contrapõe aqueles que têm como atividade principal o pastoreio e aqueles que chama de “jardineiros”, que são os povos que, como os chineses, compreendem que toda e qualquer ação só é adequada e eficaz se diz respeito das forças naturais. As relações sociais destes “jardineiros” seriam marcadas por uma ordenação que considera um equilíbrio pautado na imanência, ou seja, eram tidas como organizadas de acordo com a natureza dos seres e do ambiente que os abriga. Já o espírito societário dos “pastores” se relacionaria pelo modelo direto e constrangedor de um saber que determina o poder de uns sobre os demais. Certamente se deve dizer que, nesse molde, há os que pastoreiam e há, inevitavelmente, as ovelhas pastoreadas, ou, em termos mais claros e diretos, há os que sabem e mandam e há os que ignoram e obedecem.

Toda a história do ocidente parece marcada por esse parâmetro subjetivo de pastoreio. É preciso atividade, acima de tudo. Não é possível imaginar ficar esperando boas condições para realizar algo. O ocidental deve criar as condições, gerar sua própria história, intervir diretamente sobre a realidade. Enquanto o jardineiro precisa saber lidar com as condições ambientais, climáticas, o pastor não quer saber disso: quer apenas que elas se adaptem ao seu interesse. O jardineiro espera a hora certa para plantar e colher, o pastor quer semear e conseguir frutos na hora em que desejar. Por isso, aquele aprende com a natureza, enquanto este tenta ensiná-la como melhor satisfazê-lo.

O pastor é transcendente, isto é, considera-se de inteligência superior, dotado de atributos que ultrapassam a realidade sensível e que o fazem independente da natureza e determinam que ele aja autoritariamente sobre ela. O jardineiro cultua a imanência, ou seja, está voltado para aquilo que é inerente à natureza, por isso precisa respeitar seus ciclos e acatar os ditames naturais que o seu corpo traz. O deus do pastor é, assim, impositivo e autoritário, único e dono de uma verdade única. O jardineiro crê numa deidade que se distribui pela realidade e que representa o conjunto de forças presentes na natureza. O pastor tem um deus que determina a realidade; já o jardineiro entende que a realidade conforma a sua divindade.

Há inúmeras formas de exemplificar a influência da lógica do pastor nas sociedades ocidentais. É possível utilizar a proposta educativa, que parte do pressuposto de que o rebanho de crianças nada sabe e deve ser conduzido pelo professor. Mas também é viável utilizar o formato comunicacional massificado do ocidente como modelar dessa fórmula subjetiva. Um emissor envia mensagens para inúmeros outros, assim como o pastor dá ordens a seu rebanho. Ele assim age por entender que o rebanho depende dele para sobreviver, mas também por se achar superior.

A orientação que conduz essa mentalidade se reporta ao fato de que o pastor é dotado de inteligência, enquanto o rebanho não é. É possível dizer que o guia se caracteriza pela superioridade humana frente aos animais, da mesma forma como o ocidente aprendeu que o homem é o interventor da natureza simplesmente porque a reinventaria e suplantaria com sua cultura própria. E, usando as palavras de Jean-Pierre Vernant, “a produção humana obedece a uma finalidade inteligente, enquanto os processos naturais realizam-se ao acaso e sem previsão”.

O motivo prático que alimenta a produção subjetiva do pastoreio, geralmente não enunciado claramente, é que o rebanho alimenta o pastor com a sua própria carne e não convêm a ovinos, caprinos ou bovinos questionar isso, muito menos a bandos humanos. Devem, certamente, agradecer ao pastor por este devorá-los. Qualquer semelhança com a contemporaneidade urbana e sua dinâmica não é mera coincidência.
Luiz Geremias

Nuvens 7

Foto de Luiz Geremias

Nuvens 6

Foto de Luiz Geremias